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Foto do escritorPriscilla Nogueira Castro

Autismo: Perigos e diferenças no Tratamento


Caríssimas Autistares, essa é a continuação do artigo Autismo e Big Data: Sistema Computacional reúne os principais achados científicos. Caso queiram entender melhor esse segundo artigo, o ideal seria que lessem primeiramente o artigo citado, clicando no título acima (em azul), pois tive que dividir o texto em diferentes artigos para que não ficasse muito grande e sobrecarregasse a leitura. No mais, desejo-lhes uma ótima reflexão!

As diferentes respostas ao tratamento no Autismo


Bem, é que essa temática me parece inesgotável, pelo simples ou complexo fato de que "há diversas possibilidades de combinação genética que resultam no Autismo". Desta forma, o artigo Big data approaches to decomposing heterogeneity across the autism spectrum, que em portugués pode ser traduzido como "Apresentações do Big Data para decomposição da heterogeneidade por detrás do espectro Autista" , trouxe algo compreensível, quando menciona que existe aquele probleminha de diferentes Autistas terem respostas variadas em mesma tipologia de tratamento, ou seja, nem o tratamento seria possível de ser padronizável. Sob essa luz, trago a reflexão da diferença entre "doença" e " transtorno". Vamos fazer um breve corte para esse último assunto: Porque o Autismo não é uma Doença, mas sim um Transtorno:


  1. Doença: é toda aquela manifestação na forma de um distúrbio orgânico em um único órgão, em específico

  2. Transtorno: a manifestação ocorre em distúrbio em diferentes órgãos, em simultâneo


Dessa forma, para o tratamento de uma doença, as chances são maiores para a possibilidade de generalização do tipo de tratamento a todos os doentes, que muito embora se trate de indivíduos desiguais, consegue-se administrar igual tratamento colhendo-se semelhantes resultados.

No caso de um Transtorno, como já dito, são distúrbios em variados órgãos, que possuem gradações de acometimento também diferenciadas. Sendo assim, torna-se quase impossível a generalização de um único tratamento a todos os portadores, na espera de semelhantes resultados entre eles.

Apenas fazendo um trocadilho, o tratamento continua um transtorno para a equipe de pesquisadores ao redor do mundo, isto porque já foi declarada urgência pela comunidade científica para que se realizassem pesquisas aprimorando os usos de tratamentos, em que esses eliminassem essa heterogeneidade nas respostas que cada Autista têm para com os tratamentos.


Tratar o Autismo pode ser perigoso


Diretamente dos grupos defensores da neurodiversidade, o que se defende é que: deixem em paz o Autismo e vá buscar tratamento para outras questões. Essa alegação é devida pelo fato de que se percebe que o Autismo pode ser parte da identidade e personalidade do Autista e que atacar ferozmente as sintomatologias centrais do Transtorno pode levar a outros distúrbios mais sérios e relacionados diretamente à sobrevivência e diferenciação competitiva do Autista enquanto indivíduo societal. Inclusive o livro "A Coragem de ser Superdotado", a autora Érika Landau exemplifica um cenário semelhante quando disse que ao alterar o hiperfoco cognitivo de uma criança com superdotação, essa acabava perdendo outras características anteriormente incentivadas pelos pais e esse fenômeno era esperado.


Más adaptações do Autista podem advir não das características próprias e centrais do Transtorno, mas dos contextos sociais.

Essa última frase me marca bastante em minha história de vida, uma vez que sou defensora dessa probabilidade citada acima e já deixei vários consultórios com o aperto no coração de ter tido que discutir sobre essa possibilidade com profissionais ditos "Especialistas em Autismo".

Tais profissionais, que na realidade, todos por quem já passei em tratamento, defendiam paulatinamente a ideia de que o 'erro' estava em mim, em minha forma de percepção do mundo, em meus comportamentos típicos do Autismo, em contraposição ao que eu apresentava a eles para reflexão: a possibilidade de que meu estado de sofrência incomum viesse de minhas tentativas constantes e fracassadas de lutar contra o mundo, contra todo um contexto de comportamento social, que não estava disposto a me incluir, a se tornar mais acessível às minhas possibilidades, a não conceder-me a liberdade para que eu pudesse ser eu, ser Autista.

Esse acúmulo de privações estavam a gerar em distúrbios de personalidade, emocionais e sociais, pois eu me via em contextos exigentes, em extremo, para minha condição Autística, sem nenhuma ou quase nenhuma condição de lutar À meu favor e sendo acusada de não 'ser' o suficiente, de não me mudar o bastante e com isso eu colhía ambientes insuportáveis para mim.


Portas de escritórios advocatícios eram fechadas para mim, para que eu pudesse pleitear maiores inclusões em espaços presenciais obrigatórios. Portas de consultórios eram "fechadas" todas as vezes em que eu me via refém de grandes somas monetárias para perpetuar um tratamento específico à minha condição. Portas profissionais e acadêmicas "fechadas" todas as vezes que eu era obrigada a uma socialização para ser vista como 'produtiva'. Portas universitárias "fechadas" porque eu não aprendia como o padrão. Enfim, várias situações de cercos e os profissionais fingiam não visualizar minha desvantagem, que para mim era mais lógica que o ar que crescia dentro de meus pulmões.


Dizem para os Autistas, que eles devem se adaptar, para essa ordem, não se necessitava falar explicitamente, somente peço que visualizem os consultórios médicos ou outros espaços sociais, que verão a necessidade dos profissionais em mudar nosso comportamento acima de quaisquer mudanças ambientais, ou seja, nos exigirem uma mudança comportamental para nos adequar-mos, mas quando perguntamos "quando será a vez da sociedade se adaptar a nós", nunca há respostas adequadas, elas vêm de forma tardia, quando já estamos invalidados ou desautorizados por demais pelo nosso contexto, inibidos e com medo de fazer-mos mais, ou simplesmente tais respostas nos são negadas.

Além disso, os profissionais com quem tive a oportunidade de dialogar durante minhas "tentativas de treinamento", nunca sabiam quando eu já estava em meu fator máximo de adaptação e quando era a vez de meu contexto ser alterado para se exterminarem os conflitos.

Essas ausências de respostas sempre me passaram a impressão de que como era mais difícil mudar a sociedade, acabaram por recorrer na exigência de mudança sobre nós, poucos indivíduos e com fragilidades que nos deixam em abrangente desvantagem.


Descobrimos que a população adulta autista pode ser dividida de forma confiável em subtipos que são completamente intangíveis em teste de estratificação versus aqueles que são altamente prejudicados

Isto é, no meio de todos os tipos de autistas, que já estratificados em níveis de diversidade, existe aquele grupo, adulto, que apresenta alta singularidade, dificultando o uso de tratamentos padronizados.

Continuaremos em próximos capítulos. Grata!

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