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Foto do escritorPriscilla Nogueira Castro

Autismo e Big Data: Sistema computacional reúne os principais achados científicos


Caríssimas Autistares, estarei escrevendo vários compêndios sobre o Autismo em comemoração ao Dia Mundial do Autismo, em celebração Internacional no dia 02 de Abril de 2019.

Por se tratar de várias abordagens e com a finalidade de esgotar ao máximo essa temática tão rica e complexa eu teria que escrever um único artigo, imenso. Em respeito a várias seguidoras que possuam Transtorno de Déficit de Atenção associados ao Autismo, irei desmembrar o artigo em vários. A seguir, tenham uma ótima leitura!


Parte 1


Bem, acredito que o título já esteja, por demais, claro. Mas a questão é que em Janeiro de 2019, a Revista Nature Neuroscience, um dos periódicos científicos de maior impacto mundial, publicou um artigo com os resultados da sincronização de dados científicos sobre o Autismo, obtidos a partir de um sistema computacional denominado Big Data. Esse sistema, recolheu os principais achados científicos sobre o Autismo que se tinha até o momento e realizou um cruzamento dessas informações.

Um Big Data trata-se de um Sistema Computacional elaborado para processar informações de grande volume e quantidade, sendo que fazer isso manualmente não seria possível, pela vastidão de informações e/ou complexidades envolvidas nelas.

O então artigo intitulado Big data approaches to decomposing heterogeneity across the autism spectrum, que em portugués pode ser traduzido como "Apresentações do Big Data para decomposição da heterogeneidade por detrás do espectro Autista" trouxe a reunião de variados resultados de artigos e pesquisas já publicadas sobre o Autismo ao redor do mundo, até o momento dessa publicação.


Autistares, abaixo vai a condensação de cerca de 100 publicações científicas realizadas sobre o Autismo no mundo.


Quantos de nós há e quanto custa ser Autista?


O Autismo anda ocorrendo entre 1 a 2% dos indivíduos da população mundial. A OMS têm alertado que daqui uma década o assunto "Autismo" já se torne um tema de calamidade pública pelo aumento na progressão que ele tem apresentado. Mas, quanto custa ser Autista?


Nos Estados Unidos e Reino Unido esse custo é estimado em 2,4 milhões de dólares anualmente, para cada indivíduo. Essa é uma estimativa para tais países desenvolvidos, uma vez que a prospecção de gastos do Autista com sua condição em países subdesenvolvidos não foi apontada, ressaltando-se que os custos com Alimentação, Transporte, Moradia, Higiene Pessoal são mais caros em países de Terceiro Mundo. Quanto aos gastos envolvendo os tratamentos de Saúde e embutidos nesse valor estimado pode ser maior ou menor em países subdesenvolvidos, a depender das políticas de saúde pública de cada país.

No Brasil, por exemplo, o avanço científico com relação a novas perfomances de tratamento estão ainda muito diminutas e dividas, levando ao transtorno que é o tratamento particular ou com uso de planos privados de atendimento, pela dificuldade de se encontrar profissionais na rede SUS especializados ou que queiram se especializar na área científica do Autismo.

Há pais que já alegaram que o tratamento na Argentina é menos oneroso que no Brasil, e se propuseram a se mudar para o Rio Grande do Sul para viajarem constantemente para a Argentina à tratamento. Isso porque, na Argentina as receitas para compra de medicamentos contínuos não são obrigatórias, em Buenos Aires, capital Argentina, situa-se o maior número de psicólogos per capita do mundo.

Pode-se conseguir também por ali (Argentina) o Certificado de Discapacidad, por onde o Autista é submetido à avaliação de uma junta médica e consegue ser avaliado como portador de Autismo. Com o Certificado de Discapacidad, o cidadão Argentino ou morador estrangeiro consegue obtenção de isenção ou pagamento parcial de:

  • Transporte Coletivo

  • Gás e Eletricidade

  • Bolsas de Custos Acadêmicas

No Brasil, há a possibilidade de se conseguir uma liminar que obrigue o Estado ao pagamento de todo o tratamento ao Autista, bem como levar essa obrigação aos planos de saúde privados. Por conveniência, pode ser alegado o tratamento nos Centros de Atenção Pisicossociais ( CAPS) e nas STR's (Comunidades Terapêuticas), mas esses ainda continuam mesclados e imparciais, frequentemente, tratando o Autismo como mais um caso de Transtorno Mental, retirando sua especificidade um pouco mais transparente quando o tratamento é feito por profissionais especializados em Autismo.

Somando-se a isso, temos o caso das Moradias Assistidas, que estão iniciando-se agora em nosso país e a custos absurdos. Com exceção de casos encaminhados por determinação judicial com prerrogativa obrigatória de acolhimento pela instituição, as moradias assistidas, em sua maioria:

  1. São pouco ou nenhum pouco especializadas a tratamento Autístico

  2. Podem chegar tranquilamente a valores acima de R$ 5.000,00

  3. Estão presentes em Metrópoles, em sua maioria

  4. Daquelas poucas especializadas em Autismo, menor ainda é o número daquelas que conseguem acolher Autistas Leves

Querem dar vários 'nomes' para o Autismo


A comunidade científica têm permanecido dividia com relação à natureza biológica do Autismo. Em meio a tantos critérios heterogênios dessa condição, muitos consideram o desmembramento do Autismo como sendo o mais adequado, até o momento, levando-se como fator decisivo a inadequação de se colocar todos os Autistas em mesmo rótulo: Autismo.

Essa questão surge polemizada por vários autores, uma vez, que se não há um fator comum e biológico a todas as aferições do Autismo, também não haveria como submeter a todos Autistas em mesma condição neurobiológico, com mesma nomenclatura patológica.

Tenho conversado como várias Mulheres Autistas, que em sua maioria na condição de acometimento leve do Transtorno, relatam não acreditarem ou não terem acreditado, em certo tempo, em seu diagnóstico, tendo por certo que várias das características acondicionadas ao Autismo elas não possuírem e portanto pensam haver algo errado em serem enquadradas dentro do Espectro.

Há Mulheres, que me dizem ter características tão singulares que jamais as vi sendo relatadas por outros Autistas. Temos também Autistas com pensamentos muito lógicos, há outros com pensamentos muito subjetivos, outros com pensamentos muito rígidos, mas outros que surpreendem com sua criatividade.

Há Autistas que terão inabilidades no mercado de trabalho ou em sua profissionalização, sejam essas dificuldades discretas, constantes ou intransponíveis, e outros que não possuem inabilidades aos olhos de seus pares e até superam a média em trabalho, desenvoltura e produtividade.

Continuo dizendo que há Autistas com inabilidades em sua vida afetiva, sejam essas discretas, constantes ou intransponíveis, haverá outros que necessitarão de uma vida afetiva consolidada para se sentirem seguros em um funcionamento neurobiológico adequado, mesmo que tendo inabilidades no transcorrer, já outros, literalmente, preferirão ficar sozinhos nessa trajetória de convivência, a fim de assegurar um balanceamento emocional, que lhes passe maior confiança.

Falo sobre tais diferenças no Livro Camaleônicos da autora Selma Sueli Silva, esse livro trata-se de uma compilação de várias entrevistas realizadas com diferentes autistas, inclusive mulheres, refletindo a natureza heterogênea com maior empirismo.


Acontece, que em razão da heterogeneidade da condição autística coexistem várias combinações de características possíveis a uma Autista e que não deixam de inserí-la no Espectro. Essa possibilidade quase infinita é que vem levantando questionamentos acerca de uma adequada estereotipização da condição autística, sendo que ela não pode ser estereotipizada ou padronizada em sintomatologias para todos os Autistas de forma biológica.


Desta forma, essa multiplicidade de condições pode ser analisada a nível neuronal, genético, cognitivo, comportamental e em outros aspectos clínicos.

Modelos que possibilitem a estratificação dessa heterogeneidade ou de definições de 'caras' que o Autismo possua já foram apresentadas para melhor entendimento científico, embora eles se mostrem divergentes entre si e dividam os diferentes 'tipos' de Autismo dentro de níveis de análises ou entre os níveis.

No critério de interpretação "entre os níveis" temos as classificações entre Autismo 'Leve', 'Moderado', 'Severo'. Essa tipologia de análise tem sofrido diversas observações, inclusive a da impossibilidade de saber do real desenvolvimento de um Autista, já que sua inabilidade principal é a de interação, fator principal para se averiguar a capacidade de representação que um indivíduo faça da realidade/comunicação ou até mesmo da re-representação, segundo Magda Becker Soares, estudiosa dos processos de alfabetização na Neurocognição.

Desta forma, um Autista 'Severo', pode surpreender-nos, de forma meramente espontânea, com uma comunicação verbal ou escrita, sendo que nunca demonstrou avanços em tentativas de seu processo de alfabetização, como o caso da canadense Carly Fleishmann, embora ela não tenha sido única.


A partir das diferentes formas utilizadas para tratar essa heterogeneidade do Autismo, surgiu a terminologia "Espectro", como forma de imprimir entendimento dos diferentes tipos de modelos de análises que hajam para interpretar o Autismo. Esse termo, "Espectro" surge de Wing L. em 1975 com a publicação do livro The Autistic Spectrum: a guide for a parents and professionals. Wing deixa o legado da apresentação do Autismo em uma visão multiníveis.

Para o entendimento do porquê ocorrem 'multiníveis' no Autismo, os cientistas têm utilizado os termos "equifinalidade" e "multifinalidade".


Equifinalidade e Multifinalidade: a resposta para as diferenças entre cada Autista


Segundo o então artigo, existem duas explicações para a diversidade de características presentes em cada Autista, o que daria motivação para Wing nomear tudo como sendo "Espectro".

Essas duas formas seriam a Equifinalidade e a Multifinalidade.

É que já vi pessoas me indagarem de qual ou quais os fatores comuns responsáveis por diagnosticar algum indivíduo com Autismo.

Conforme o artigo, a:

  • Equifinalidade: é quando a diversidade inside sobre diferentes pontos iniciais de desenvolvimento genético, mas causa efeitos semelhantes

  • Multifinalidade: quando a homogeneidade ou semelhança em pontos do desenvolvimento genético levam a uma diversidade de efeitos ou de 'pontos finais'.

Para finalizarmos entendendo melhor as origens das diferentes características entre Autistas, das diferentes interpretações "entre níveis" e "dentro dos níveis", vou citar uma parte que julguei relevante no Livro Neurociências: desvendando o Sistema Nervoso Central:


Muitos dos nossos genes carregam pequenas mutações chamadas de polimorfismos de um único nucleotídeo, os quais são análogos a pequenos erros de soletrar causados pela mudança de uma única letra.

Esse tipos de 'erros' foram comparados por Bear et al. como a diferença entre "aterrizar" e "aterrissar", em que se soletra de modo diferente, mas ambas palavras possuem mesmo significado, logo o contexto genético seria benigno. Entretanto, nem sempre as mutações são tão diminutas em termos de afetar a genética, em tais cenários a função proteica pode ser radicalmente alterada mesmo com 'erros' de codificação genética, aparentemente, tão indiferentes, mas que mesmo com 'letras' tão similares, causam diferente sentido (diferença entre "coser" e "cozer"). Dessa forma, se polimorfismos que causem significados diferentes na codificação ocorrerem, seja de forma isolada no nucleotídeo ou conjuntamente, geram disfunções neuronais.

O isolamento ou forma conjunta de ocorrência dos polimorfismos, o número de genes alterados nesse 'erro' de codificação é quem contribuiriam, de alguma forma, nas diferenças das manifestações autísticas em cada indivíduo.


Se lestes até aqui, é porque és uma guerreira leitora! Grata

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