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  • Foto do escritorPriscilla Nogueira Castro

Por que as mulheres precisam completar o "ciclo" para conseguirem diagnóstico de autismo?

Queridas Autistares, inspirada nas palavras do pesquisador e psicólogo Eslen Delanogare é que farei de algumas de suas palavras, as minhas!



O Ciclo entre Transtornos com traços em comum


Segundo entrevista fornecida pelo Psicólogo Eslen Delanogare a um programa no YouTube, é quase impossível um psicólogo diagnosticar um paciente que possui um Transtorno com traços comuns a outros Transtornos. Essa impossibilidade estaria condicionada a um "ciclo" que um dos Transtornos ou ambos, que possuem traços em comum, precisam completar para assim conseguir diferenciar um Transtorno de outro. Nas palavras do psicólogo, só depois de completar o "ciclo", poderia trazer à luz a diferenciação e ser concedido o diagnóstico correto a esse paciente.


Como exemplo, foi citado na entrevista, os Transtornos de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o Transtorno de Déficit de Atenção (TDA), o Transtorno Obsessivo Compulsivo e o Transtorno Bipolar. Em todos esses Transtornos temos um traço muito comum que seria a "Impulsividade" e eu consigo acrescentar ainda o Transtorno de Ansiedade Generalizada e o Transtorno de Personalidade Limítrofe (Borderline), que também possui algum traço de Impulsividade comum.

Na opinião de Eslen, o profissional que tivesse um paciente no estágio de hipomania do Transtorno Bipolar estaria incapaz de diferenciá-lo de um paciente com TDAH, TDA, TOC ou até mesmo TAG e TPL (essas duas últimas seriam considerações minhas), isso porque o paciente em hipomania está com o traço de impulsividade exteriorizado em demasiado, traço esse, que por ser comum a outros Transtornos, pode levar o profissional a confundir os transtornos e diagnosticar incorretamente.

Somente depois de o paciente sair dos episódios de Hipomania e chegar ao extremo oposto dos episódios maníacos-depressivos é que ele poderia concluir o diagnóstico em Transtorno Bipolar, mas que caso o paciente não completasse esse "ciclo" de episódios, significaria que ele não possui o Transtorno Bipolar, mas que possui outros tipos de Transtornos com traços em comum com o Transtorno Bipolar.


O que isso tem haver com Mulheres Autistas


Fazem alguns anos que circulam informações sobre o nível de esquecimento que a Medicina tem das Mulheres com Autismo. Esse fato não teria relação com o número ou relação estatística de homens com autismo ser imensamente maior que das mulheres, mas teria mais haver com falta de políticas públicas, que encorajadas pela cultura patriarcalista ainda predominante no mundo, teria se "lembrado" que existem apenas homens autistas ou dado certa preferência a esses.

De certo, se vamos aos artigos da Nature Neuroscience ficamos constrangidas ao ver a escassez de pesquisas com Mulheres e como elas são tão generalistas quando ocorrem.


Parece que ninguém sabe de qual "planeta" nós viemos. Nos dão conselhos que dariam a homens autistas, com base em pesquisas com homens autistas, dentro de livros e metodologias de pesquisas criadas por Homens, você é capaz de entender em qual nível de esquecimento estou falando, de quanto somos esquecidas?

Para acrescentar tudo, se você não se encaixa em resultados de pesquisas produzidos por pesquisas com Homens Autistas, você não é Autista: simples assim.

Em outras palavras, para ser diagnosticada com Autismo de forma Tempestiva, você necessita ser Homem, pois as evidências estatísticas não te deixariam ser aprovada na "prova do autismo", no máximo, te colocaria como um "outlier" (um dado fora da curva) de um Diagrama de Dispersão: aquela coisa, "você tem traços, mas não é autista" ou então "você fica na zona limítrofe mas não entra no Espectro" ou até o famoso "Você não tem cara de Autista".


Aquelas, que enfim, conseguem o diagnóstico precisam fazer o quê então?


A resposta pra essa pergunta seria "tempo". Você precisa esperar e esperar, esperar e aí esperar ainda mais um pouco para então começar a ter outros Transtornos, daí você é diagnosticado com os Transtornos mais "usuais" ou mais familiares para a comunidade médica mundial. Depois de tais diagnósticos, você ainda precisa adquirir mais outros Transtornos, que com muita sorte no pai do céu, eles formem uma "seta" bem grande apontando para um traço que só o autismo tenha, depois você torce para seu atual médico saber dessa informação. Esse então seria o "ciclo",que análogo ao que o psicólogo Eslen apresentou.

Ajuntando todas essa minhas suposições, parece haver um ciclo que toda Mulher que é diagnosticada com Autismo parece passar por ele, em sua maioria. Mas, isso de uma forma sádica: o ciclo é TODO O TEMPO GASTO DESNECESSARIAMENTE NOS OCUPANDO COM DIAGNÓSTICOS EQUIVOCADOS ATÉ CONSEGUIR ENTENDER QUE SOMOS "AUTISTAS DE VERDADE", isso em razão:

  • dos traços em comum que o autismo tenha com outros transtornos - o que faz com que o médico inábil espere seu diagnóstico demonstrar-se incompatível com a realidade da paciente, para só depois considerar o autismo na Mulher.

  • da falta de pesquisas com Mulheres Autistas, o que torna a grade curricular dos cursos de Medicina preparados apenas para diagnóstico de homens, majoritariamente, e que sejam crianças de grau moderado a grave.

  • da capacidade cerebral das Mulheres de fazer "making" com mais facilidade que homens, o que a faz passar desapercebida nos radares da Medicina.

  • da cultura de que Mulheres não podem sofrer de autismo, só homens - algo alimentado pela predominância de estudos com homens.

  • do enrijecimento que o CID 10 traz para diagnóstico de Autistas Leves, quanto mais de Mulheres de grau leve.

  • pela falta de especificação clara no Manual de Psiquiatria (DSM V) do que seria o traço denominado "Déficits persistentes na comunicação social e na interação social" diante do desenvolvimento diferenciado que o cérebro feminino possui na linguagem.

  • ao fato social e antropológico de a Mulher ser "empurrada" a interagir socialmente, enquanto que esse comportamento é aceitável a um homem.

  • à separação da Síndrome de Asperger no CID 10 dos demais Transtornos do Espectro Autista, sendo incorporada ao Transtorno apenas por convenções internacionais, que ainda possuem alcance diminuto na Medicina brasileira.

Enfim, esperamos que o NOVO CID: CID 11, acabe com alguns dos estereótipos do diagnóstico e facilitem o alcance de mais Mulheres de forma tempestiva, antes que tenham que completar um "ciclo" de tanto sofrimento.

 

Obrigada a todas as Autistares que chegaram até aqui em minhas análises mirabolantes de vida enquanto mulher com autismo também. Agradeço por terminar esse ano com um texto tão importante pra nós!!




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